| Página Inicial | Nossa Proposta | Corpo Editorial | Regras de Uso | Envie sua Obra | Fale Conosco |


JORGE BASTOS

I. Sobre o autor

Jorge Bastos é Psicólogo e trabalha com teatro, já tendo montado com o grupo de teatro Artepsi adaptações de prórpio punho de "O Alienista"(2006) e "Édipo Rei" (2005). Já publicou algumas poesias pela Litteris e agora está me aventurando pelo caminho dos contos. contato com o autor: oliversaba@hotmail.com.


II. Suas Obras


Clara

Eduardo era considerado um bom rapaz, apesar de ser a feiúra sua característica mais marcante. Como herança desta virtuosidade indesejada, havia o apelido nem um pouco pomposo que ostentava: Buiú. Certo dia conheceu em uma roda de amigos uma moça chamada Clara. Ela era a mais bela jovem de toda a universidade. Buiú não foi capaz de resistir a beleza e a ternura com a qual Clara inundava os ambientes por onde passava, obviamente não seria o primeiro e nem o último a enamorar-se dela. A fisionomia do rapaz mudava completamente ao aproximar-se daquela pequena e todos já haviam percebido isso. Momento este em que começaram a surgir uma série de comentários inconvenientes pelos corredores do campus, tais como: "Buiú está apaixonado" ou "A Bela e o Buiú" e ainda, "está esperando ela te dar um beijo pra ver se você vira um príncipe é"? Há lugar onde a crueldade humana possa se manifestar de forma mais plena que onde menos se espera?

A mente do rapaz era tomada por vários complexos, Buiú tivera a estruturação do seu ego bombardeada por uma serie de estímulos negativos e isso se refletia na sua incrível timidez. Ele sabia muito bem que as pessoas se aproximavam dele por interesse, principalmente no meio escolar, pois sempre fora um aluno brilhante. Tinha também plena consciência de que garotas como a Clara não se interessavam por caras como ele; ela é bela, inteligente e popular e ele não passa de um "Buiú".

Certo dia porém, Eduardo estava só, no pátio da faculdade quando Clara se aproximou. Ele estava estudando filosofia e ela disse que conhecia bem o ponto que ele passava. Conversaram por horas a finco e desde este dia passaram a ser vistos sempre juntos. É lógico que as piadinhas se intensificaram, mas Buiú não se importava, ele sabia que aquela mulher era diferente, a ausência de superficialidade a diferenciava de todas as demais e a futilidade era uma característica que ele jurava jamais associar a ela. Não tardou até que assumissem um romance.

Eduardo realizava todos os desejos de Clara, dos mais simples, como bombons e flores, aos mais complexos, como fins de semana no exterior. Fazia tudo o que ela queria, tornava sua as vontades dela. E assim viveram por mais de um ano.

Faltava um pouco mais de seis meses para a formatura de Eduardo em uma carreira bastante promissora, ao menos para ele, em Psicologia, porém, um incidente inoportuno poderia mudar radicalmente a vida deste jovem: certo dia, Buiú resolveu ir até uma boate do Centro da Cidade com um amigo, ele não freqüentava este tipo de lugar, mas devia um agrado ao tal amigo e por isto o acompanhou, afinal sabem como é, o dinheiro é o melhor cartão de visitas que existe. Lá chegando, logo de cara encontrou Clara em um dos cantos do salão, aos beijos ardentes com Luizão, um dos caras da equipe de uma dessas lutas cujo nome não importa mas que pertence a faculdade onde o casal estuda. Ele já havia ouvido rumores a respeito do caso, mas como nunca os havia visto trocar uma palavra sequer, ignorava, neste momento, porém os pegou em delito flagrante trocando muito mais do que palavras, e a noite ainda estava no começo, só deus sabe o que mais poderiam trocar. Ele não se deixou perceber por ninguém e foi embora do local dizendo ao amigo que não estava se sentindo bem, o que de fato não era mentira sob nenhum aspecto.

No dia seguinte, chegou cedo a faculdade e foi logo procurar Clara, deu-lhe um anel de brilhantes valiosíssimo e perguntou se ela o amava, tendo o sim como resposta seguida de um abraço apertado, disse que era só isso que importava. Em pleno auge do abraço, cravou-lhe um punhal nas costas e ao vê-la caindo aos seus pés se esvaindo em sangue, cuspiu-lhe na cara. Por amor uma pessoa pode construir uma vida ou destruir várias. Em meio ao tumulto, Clara desfaleceu-se nos braços de Eduardo, ele então correu até o ginásio, onde Luizão treinava, sem mais nem meio mais, saltou ferozmente sobre o rapaz e estocou-lhe mais de trinta vezes com o punhal antes de ser imobilizado, depois ainda tentou cortar a própria garganta, mas não logrou êxito.

Eduardo, ao ser levado pela polícia, ainda pôde ouvir alguns comentários a respeito daquela situação, de alguns colegas de curso, inclusive daquele que o levara a boate na noite anterior: "Tinha que ser muito otário pra acreditar que uma mulher como a Clara iria ficar com um cara como o Buiú, como a maioria delas, ela só estava interessada no dinheiro dele".

Buiú ficou alguns meses na prisão, mas antes de ser submetido ao julgamento, foi encontrado morto em sua cela, enforcara-se com o lençol. Clara morreu na hora, mas havia conseguido matar mais duas pessoas depois de sua morte.